Como vocês certamente suspeitam, meu nome se deve ao fato da minha mãe gostar de Elvis Presley. Quando eu era criança e tínhamos uma vitrola, lembro que minha mãe tinha alguns vinis do Rei do Rock e uma coletânea dos Carpenters, e eu adorava essas músicas. Por alguma razão, talvez porque meu pai fosse professor de inglês, ouvíamos mais cantores estrangeiros em casa.
Lembro também de ter ganhado um vinil do New Kids on the Block no início dos anos 90. Até que meu gosto musical foi realmente surgindo e passei a me interessar pelas trilhas sonoras internacionais das novelas. E, assim, o primeiro álbum que eu efetivamente quis e minha mãe me deu foi o da trilha de Olho no Olho, pois eu era apaixonado pela música What’s Up, do grupo 4 Non Blondes, e naquela época para se ouvir uma música ou você comprava o vinil ou a fita cassete ou esperava passar no rádio, e as rádios de Campina Grande não tinham muito espaço em sua programação para essas músicas que eu gostava.
Outro espaço que foi surgindo para descobrir músicas era nas aulas de inglês do colégio. Uma vez a cada semestre, talvez, a professora trazia alguma música para trabalhar, e foi assim que conheci Spending my Time, do duo sueco Roxette, até hoje minha favorita deles devido a essa conexão emocional. Também conheci a Mariah Carey e sua My All assim.
Mas foi no segundo semestre de 1997 que uma aula de inglês mudou a minha vida. Neste período eu estava cursando o único semestre de curso de idiomas que fiz até hoje. E já estava na reta final quando o professor trouxe uma TV e passou um clipe e nos deu a letra recortada em frases para tentarmos colocar na ordem. Esse clipe era 2 Become 1, das Spice Girls.
Não muito depois daquela aula, fui atrás de uma loja de música e comprei meu primeiro CD: Spice, o álbum de estreia do quinteto britânico. Mais alguns meses e eu já tinha também comprado o Spice World. E estava completamente imerso no grupo. Nada, em nenhum outro momento da minha vida, foi tão dominador dos meus pensamentos quanto as Spice Girls dos meus 15 aos 20 anos.
Passei a comprar todas (TODAS!) as revistas de banca com fotos delas, colei pôsteres nas minhas paredes, ouvia todos os dias o dia todo, conhecia cada versãozinha de música B que nunca tinha entrado em álbum, e acompanhava muito de perto os sites de fãs. Fiquei devastado com a saída da Geri Halliwell do grupo, lembro até hoje que estava navegando quando saiu o clipe da música Goodbye, e um site fez uma versão com imagens dela.
Naquela época de Internet discada, levava horas pra baixar um vídeo rmvb com 11 MB em qualidade terrível. E eu tinha esses vídeos às centenas, cada apresentação delas em cada programa de TV. Sabia todas as letras das músicas e sabia fazer as coreografias, já que via e revia incessantemente as apresentações.
Eu tinha também os VHS que elas lançaram, do famoso Uma Hora de Girl Power, que veio com uma camiseta do grupo (a única que tive), às gravações dos shows de Istambul e Wembley, os dois mais conhecidos da carreira delas. E fiz minha mãe me levar a João Pessoa para assistir ao filme Spice World no cinema. Depois aluguei o VHS e assisti sete vezes em 24h, até hoje um recorde pessoal. Na época não achei pra comprar.
Cheguei a querer montar um fã-clube das Spice Girls, um desejo que nunca foi pra frente. E sonhava em ir a um show, algo que também nunca se concretizou pois elas nunca fizeram um no Brasil e eu não tinha condições financeiras de ir ver na Europa ou nos EUA. Quando começaram a seguir carreira solo, durante vários anos ainda acompanhei todas muito de perto, ao ponto de saber até as datas de nascimento dos filhos delas.
Eu hoje sei que é isso o que significa ser fã, e de fato as Spice Girls foram esse marco da minha vida, a única peça de entretenimento que despertou o fanatismo em mim. Durante alguns anos eu mal aceitava ouvir músicas de outros cantores. Mas isso foi aos poucos arrefecendo até se tornar apenas uma memória que eu guardo com carinho, pois foi o foco da minha adolescência (mas claro que em minha única visita a Londres, em 2013, dei um jeito de ver o musical Viva Forever no teatro).
Nunca cheguei a me afastar muito desse estilo pop internacional. Um pouco de rock. De indie. Mas durante anos meu gosto musical passou por aí, de Beatles a Taylor Swift, passando por Elton John, Roxette, Aqua e The Corrs. Não tenho preconceito nenhum com música nacional e gosto de várias, só nunca desenvolvi muito o hábito de ouvir e conheço bem menos do que deveria.
E se eu já não era um grande conhecedor de música, na última década substituí completamente esse espaço na minha vida pelos podcasts. Ao ponto de que hoje passo um mês inteiro sem ouvir uma única música. Às vezes sinto falta, mas gosto mais dos podcasts. Mas como homenagem ao tema desta edição, a escrevi ao som dos álbuns Spice e Spice World, das Spice Girls, o que retardou bastante o trabalho, pois eu não resisti a ficar cantarolando.
Um Filme: O Dia que te Conheci
A produtora Filmes de Plástico tem como um de seus pontos mais fortes o de tirar do eixo Rio-São Paulo a produção cinematográfica brasileira e levar para Belo Horizonte. E, além disso, centrar suas histórias em uma população mais periférica, mas fugindo da visão estereotipada do Favela Movie. Foi assim com seu maior sucesso, Marte Um, e agora com este encantador O Dia que te Conheci. O longa é uma comédia romântica centrada em dois protagonistas negros e gordos, vividos por Renato Novaes e Grace Passô com muita naturalidade, conferindo ao filme um aspecto bem realista.
Leia a minha opinião completa sobre o filme no Letterboxd: O Dia que te Conheci
Onde ver: talvez ainda esteja em algum cinema, parece que vai chegar à Mubi também
Outros filmes que vi este mês:
Em Busca do Ouro (Youtube)
Música (Amazon Prime)
Um Livro: A Biblioteca da Meia-Noite, de Matt Haig com tradução de Adriana Fidalgo
O mais interessante na obra de Matt Haig é como nos faz refletir sobre as decisões que tomamos em nossas vidas e o que poderia ter acontecido caso tivéssemos optado por outro caminho. Infelizmente a forma como o autor aborda essa possibilidade em A Biblioteca da Meia-Noite acaba conferindo um aspecto de auto ajuda ao livro. Mas a escrita é fluida e leve e acabou me deixando curioso pelos rumos da história.
Leia a minha opinião completa sobre o livro no Goodreads: A Biblioteca da Meia-Noite
Uma Série: A Lenda de Vox Machina, 3ª Temporada
Eu nunca acompanhei as campanhas do Critical Role, mas imagino que seja uma experiência muito interessante por se tratarem de atores e dubladores profissionais. Apesar disso, assisto à animação que adapta a primeira campanha, A Lenda de Vox Machina. Não é maravilhosa a série, mas costuma ser divertida. Esta terceira temporada tem um crescente até o episódio nove, mas achei que os três últimos enfraqueceram o conjunto, inclusive desfazendo pontos que eu havia curtido até então. Mas ainda assim foi uma temporada bacana e relativamente coesa. Os personagens são ótimos e o elenco de dubladores também.
Onde ver: Amazon Prime Video
Um Podcast: Xadrez Verbal #400
Meu primeiro episódio do Xadrez Verbal foi o #55, de julho de 2016. De lá pra cá perdi no máximo uns cinco episódios e é um dos podcasts que ouço há mais tempo. Quando tem uma semana sem episódio, meu final de semana parece incompleto. Nesta semana de publicação da newsletter o podcast completou 400 edições trazendo o que há de mais relevante na política internacional, incluindo notícias sobre países africanos ou pequenas ilhas do Pacífico, que praticamente nenhum outro veículo jornalístico brasileiro cobre.
Ouçam no seu agregador favorito ou no link abaixo:
https://xadrezverbal.com/2024/10/26/xadrez-verbal-podcast-400-400-episodios/
Uma Newsletter: Beau Society, por Hailee Steinfeld
A atriz Hailee Steinfeld chamou minha atenção por causa da série Dickinson, onde ela interpreta a poeta Emily Dickinson. Desde então passei a acompanhar um pouco mais de perto a carreira dela e as redes sociais. Com uma tentativa de carreira musical fadada ao fracasso, ela agora está obcecada com uma newsletter. Sim, ela criou a própria newsletter. Eu acho fascinante o conceito da pessoa ter dinheiro o bastante pra só buscar aquilo que lhe dá vontade de fazer no momento, em vez de emendar um filme comercial atrás do outro. Então assinei a Beau Society desde a primeira edição.
Há um aspecto levemente antropológico de ler uma newsletter de gente famosa, que é o de entender mais diretamente o que ela pensa e o que toma sua atenção, e nesse sentido há algumas edições focadas em maquiagem, roupas e outros assuntos que não podiam me interessar menos. Mas é divertido ver a empolgação dela, que entrevista colaboradores, maquiador famoso, cabeleireiro, e traz toda uma produção visual na newsletter.
Porém, a assinatura foi valer a pena mesmo na edição #08 - Inspired by Sinners, I’m taking you back to the beginning, onde ela rememora o início de sua carreira, dos primeiros testes até a cerimônia do Oscar onde foi indicada aos 14 anos por Bravura Indômita. Era esse um tema de bastidores de Hollywood que eu estava esperando. Infelizmente essa newsletter é apenas por e-mail, então não tem como deixar o link para lerem a edição específica. Mas vocês podem assinar no site oficial. E se alguém quiser ler essa específica, me procure que eu encaminho.
Leiam:
Naquela época eu também me apaixonei pelas Spice Girls, mas só tive aqueles dois primeiros CDs que estão na foto que você postou. Lembro que teve uma atividade de inglês na qual eu e umas colegas dançamos uma música delas e virou a sensação! Seu texto despertou várias lembranças boas. Muito bom!
Será que Roxette é um evento canônico nas aulas de inglês no Brasil? A primeira música que aprendi de cor em inglês foi It Must Have Been Love e até hoje eu tenho uma memória muito viva dessa aula.