Talvez você já me conheça, talvez tenha caído aqui de paraquedas. Mas dizem que não é bom se apresentar no início de uma newsletter, porque quem assina por lhe conhecer, bem, já conhece; e quem assina por outro motivo não se interessa em você e sim no que você escreve.
Eu gosto de escrever. Um dia eu escrevi ficção, talvez inclusive retome esse caminho nos próximos anos. Mas há pouco mais de quinze anos eu descobri que gostava de escrever sobre meio que qualquer coisa e comecei a fazer isso no improvável Fotolog. Lembro vividamente de ter feito uma sequência sobre as artes: pintura, música, literatura, etc. Uma foto pra cada uma com um texto acompanhando. Também publiquei contos ali, naquele espaço teoricamente fotográfico.
O Fotolog limitava os caracteres, não cabia um texto tão longo, algo meio na linha do Instagram. Para escapar dessa limitação abri um blog no Blogspot. Outubro de 2008. Postei lá por pouco mais de nove anos, mas aos poucos fui escrevendo menos e menos, especialmente após começar a usar o Letterboxd e o Goodreads para escrever sobre filmes e livros.
Mas eu queria um lugar que me permitisse fazer resenhas de quadrinhos e séries, não só filmes e livros, e acabei experimentando o Tumblr. Pois é. Durante alguns anos eu fiz um esquema pra redirecionar meus reviews no Letterboxd pro Tumblr e postava outras resenhas na plataforma. Mas não era nada prático. E fui sentindo vontade de poder escrever mais livremente.
Então caí no Medium. De 2018 a 2022 este foi o meu lugar. Mas logo fui perdendo o gosto e passei a fazer apenas posts mensais agregando meu consumo de entretenimento, linkando meus reviews no Letterboxd e no Goodreads.
E enfim veio o boom das newsletters. Eu resolvi me aventurar em mais uma mudança de local no qual registrar minhas abobrinhas. Eu não sei se serei lido, mas me importo mais em poder escrever e em estar satisfeito com minha escrita do que em saber de quem me lê. Mas é claro que alguém me ler é legal também e entrar nesse mundo enquanto ele ainda está no hype pode ajudar nesse sentido.
E já começo não seguindo a cartilha do que fazer numa newsletter, afinal essa primeira edição até agora não trouxe nada de conteúdo, apenas justificou a razão de ser do veículo, algo mais uma vez não-recomendado. Ainda sugerem definir claramente a linha editorial da newsletter, algo que eu também não serei capaz de fazer.
Este se pretende a ser um espaço de reflexões, de críticas de cinema, de indicações de livros ou séries, de discussões sobre Ficção Científica, de reclamações da vida e quaisquer assuntos que me der vontade de escrever sobre. Não há normas. Mas independentemente do assunto, eu pretendo ter sempre uma seção sobre o que ando lendo e vendo e daqui a pouco vocês já poderão ler a primeira destas.
Para completar o desrespeito às normas de conduta para uma newsletter, eu decidi que vou sim me apresentar. Eu sou um paulistano-campinense (nasci em São Paulo, mas meus pais são ambos de Campina Grande-PB e morei na Rainha da Borborema dos 7 aos 24 anos), radicado em Brasília há 15 anos, graduado em Ciência da Computação (mas cogitei fazer Letras), completando 40 anos, divorciado e sem filhos (mas com uma doguinha chamada Ygritte - sim, a personagem de Game of Thrones).
Sou apaixonado por planejamento e por isso mesmo tenho dificuldade de começar efetivamente os projetos e não apenas planejar. Já quis ser cinéfilo, já quis ser crítico literário, mas descobri que o que eu realmente gosto é de apreciar histórias, seja em que forma vierem. E é por isso que o aspecto cultural será forte nesta newsletter.
Um Filme: Os Fabelmans
Assisti recentemente a Os Fabelmans, novo filme do Steven Spielberg, que é uma incursão nas suas memórias de infância e adolescência. Se a influência parental está presente em vários momentos da filmografia dele, agora o diretor faz um recorte de sua vida familiar, abre a intimidade de seus (recém-falecidos) pais e de suas irmãs. Mas o roteiro vai além e explora a descoberta do cinema por Spielberg e é na mistura destas duas facetas, família e cinema, que reside a força de Os Fabelmans.
Para uma análise mais detalhada, leia minha crítica no Letterboxd: Os Fabelmans.
Outros filmes que vi recentemente:
Um livro: O Problema dos Três Corpos, de Cixin Liu com tradução de Leonardo Alves
Como grande apreciador de Ficção Científica, fazia alguns anos que o primeiro volume desta trilogia do Cixin Liu estava na minha lista. E a oportunidade se apresentou quando o livro foi escolhido num clube de leitura que eu faço parte. Me desapontei um pouco. Eu até gosto de hard science e não me importo tanto com infodump (o excesso de informações sobre o mundo, que não avançam a história), mas o livro precisa oferecer uma trama que compense. O plot é muito interessante, de fato. Mas a escrita e a estrutura do livro não fazem jus a ele.
Mais detalhes no meu Goodreads: O Problema dos Três Corpos
Uma Série: A Vida Mentirosa dos Adultos
A adaptação em seis episódios do livro homônimo da Elena Ferrante sofre dos mesmos problemas do material de origem e acrescenta novos. O que me incomodou no livro foi o quanto todos os personagens são desagradáveis. E não é só por serem pessoas tridimensionais, realistas. Não, todo mundo que tem mais destaque é um porre. Mas, claro, como Ferrante tem o dom da escrita, a obra segue interessante apesar de seus personagens (e eu não vou entrar na questão de precisar ou não de bons personagens para um livro funcionar).
Já a série não tem esse bônus da prosa da autora. E, além disso, envelhece um pouco as meninas e concentra a história num período mais compacto de tempo, e essa decisão reduz o peso dos acontecimentos e apressa o amadurecimento da protagonista.
Ainda assim, é uma minissérie bem produzida, com ótimo elenco, figurinos, cenários e, especialmente, a ótima construção da atmosfera dos anos 90 e do contraste entre as duas Nápoles.
Um podcast: Flash Forward - Vanguard Estate
O Flash Forward era um podcast dos EUA capitaneado pela jornalista Rose Eveleth. Uso o verbo no passado porque no finalzinho de 2022 ele foi encerrado depois de sete anos. Vanguard Estate foi a oitava de suas nove temporadas e foi a mais diferente delas. Tradicionalmente cada episódio do podcast começava com uma breve encenação imaginando algum futuro, como, por exemplo, o que aconteceria se os humanos se tornassem noturnos. Então Rose entrevistava cientistas e especialistas variados sobre a possibilidade daquele futuro acontecer e quais as consequências para a humanidade.
Mas em Vanguard Estate a temporada começa como um jogo “escolha seu caminho”. Num primeiro episódio descobrimos que a protagonista e sua irmã têm um pai com Alzheimer e estão avaliando a possibilidade de deixá-lo numa casa de repouso cuidada por robôs. E na sequência, se você quiser deixá-lo lá, ouve o segundo episódio. Senão, ouve o terceiro. E assim segue por 27 episódios curtinhos, de três a oito minutos. Em seguida, Rose entrevistou especialistas em cinco episódios mais convencionais abordando os temas discutidos no “jogo”. Tudo muito bem produzido e divertido. Claro que saí voltando para conseguir ouvir cada uma das 13 possibilidades de final e até me emocionei em uma delas.
Ainda não ouvi a nona e última temporada do Flash Forward, mas vai deixar saudades. Lembrando que é em inglês.
Uma newsletter: Mercúrio em Peixes sobre Gatekeeping
O Thiago Ambrósio Lage, além de professor de Engenharia de Alimentos, escritor, editor na Plutão Livros e co-host do podcast Incêndio na Escrivaninha, é o autor da newsletter Mercúrio em Peixes. Nesta edição, o Thiago aborda o gatekeeping, que é mais ou menos o ato de uma pessoa decidir o que a outra pode ou não gostar. Leiam porque o Thiago explica bem melhor.
Nos vemos daqui a 15 dias.
=D yay! Bem-vindo! Esse é só mais um espaço dos muitos que vc já conquistou =D
Seja bem-vindo à newsletterosfera! Amei que já chegou quebrando regras, e amei você falar que não tem linha editorial e explicar a linha editorial no parágrafo seguinte! Eu acompanhava de longe seu Medium e creio que vir pra cá foi uma mudança acertada. E interessante a narrativa de tantas mudanças geográficas na sua vida real espelhando as suas migrações digitais.
E fiquei super honrado de ser citado aqui!
Vida longa à Toca do Lobo, independente do endereço!