Há algumas semanas, mais de um amigo disse ter se lembrado de mim ao ouvir o episódio 68 do podcast Rádio Novelo Apresenta, com o título A parte que falta. Especificamente a segunda parte do episódio, em que a host Bia Guimarães conversa com o Daniel sobre suas listas, em particular a de caras que ele já beijou. No episódio, o Daniel comenta que começou colecionando coisas e depois partiu pras listas. E que mais recentemente foi diagnosticado como tendo Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva (que é um pouco diferente de Transtorno Obsessivo-Compulsivo, o famoso TOC).
As pessoas se lembraram de mim porque sou às vezes chamado de o louco das planilhas, o louco das listas. E eu claramente me identifiquei com o entrevistado do podcast, em alguma medida. Eu não creio que eu esteja no mesmo patamar, inclusive li sobre esse transtorno e não considero que eu chegue a tanto. Tenho alguns pontos em comum, mas numa outra escala.
Uma relação que eu nunca tinha feito é a das listas e do planejamento com o colecionismo. Eu tenho traços colecionistas. Quando criança eu catava pedras bonitas por aí, especialmente quando ia ao sítio da minha tia, e tratava como a minha coleção de pedras. Já era adolescente quando lançaram nas bancas uma coleção de gemas e minerais brasileiros, em 60 fascículos semanais. Acabei com minhas mesadas mas comprei tudo. Tenho até hoje, embora pretenda me desfazer. Só falta tempo pra tentar vender porque a coleção é linda. E, honestamente, eu achava legal mas nunca passou muito disso, eu não deveria ter comprado.
Agora uma coleção que eu realmente investi foi a de quadrinhos. Comecei a ler com 3 anos de idade e desde essa época já pedia HQs pros meus pais. Depois troquei a Disney pelos X-Men e passei 20 anos comprando Marvel. Quando chegaram os mangás com força no Brasil então… uma loucura. Mas hoje não sou mais tão viciado nessas coleções. Doei dois anos atrás 10 caixas de quadrinhos, somando cerca de duas mil revistas. E tou com uma quantidade encaixotada esperando tempo pra tentar vender também, pois são coleções fechadas de mangás recentes e em ótima qualidade. Ainda compro quadrinhos, mas cada vez menos.
Eu não sei quando descobri as listas. Mas lembro que eu tinha uns 14 anos quando comecei a rascunhar histórias de super-heróis imitando os X-Men. E uma parte do planejamento que eu fazia das histórias envolvia quantas “revistas” seriam lançadas, quais os números de cada mês, o que aconteceria em cada número, e as grandes sagas que uniriam as várias revistas. Eu gostava tanto desse planejamento de lançamento quanto de pensar nas histórias em si.
Também me recordo de um interesse pelas Copas de 1994 e, principalmente, 1998, mais centrado na tabela e na organização do campeonato do que no futebol em si. Até hoje eu adoro estudar a tabela da copa, ver quem está em cada grupo, as possibilidades de cruzamento, fazer bolão… essa é a parte realmente divertida pra mim.
O registro dos meus filmes e livros começou em 2005. Meu amigo Gilvan comentou que anotava seus filmes em algum caderno e decidi criar uma planilha a partir desse ano para filmes e também livros. Sim, estou no vigésimo ano de registro. De repente até faço um post no início de 2025 com estatísticas dessas duas décadas. Alguns anos depois notei que eu lia mais quadrinhos que livros e incluí uma aba para registrá-los. Mais alguns anos e capítulos de séries. Depois podcasts ouvidos. E agora newsletters lidas. Tudo com data e nota.
Quando comecei a registrar os filmes e livros, percebi que era mais fácil assim fazer listas de melhores do ano, por ter como recordar adequadamente o que vi e li. Daí surgiu o Letterboxd e se tornou comum fazer listas ranqueadas dos filmes de um diretor ou ator, e ocasionalmente faço ou edito alguma (acabei de encaixar Duna: Parte Dois na lista do Villeneuve, por exemplo).
Outra grande compilação de listas que fiz vários anos atrás foi quando decidi estudar um pouco de cinema e montei uma planilha selecionando categorias, que englobava gêneros, movimentos, épocas, filmografias de diretores, etc., e fiz uma aba pra cada categoria listando os filmes daquela que eu pretendia assistir. Levei um tempão montando, e esse trabalho acabou virando a watchlist do meu Letterboxd quando criei a conta em 2014. E o ato de montar essa planilha foi muito prazeroso pra mim.
Também lembro de quando decidi pesquisar livros clássicos das space operas e selecionar para ler. Infelizmente o Goodreads passa longe de ser tão bom nisso quanto o Letterboxd, mas coloquei lá no “to-read” também.
E claro que eu não esqueci do planejamento de viagens. Adoro montar planilhas, decidir boa parte do roteiro de antemão, essa arte de escolher quantos dias passar em cada local, que restaurantes visitar, que museus, antecipar compras de ingressos, etc. A viagem que fiz em 2013 para a Europa foi um marco nesse quesito.
Mais um marco foi a entrada do Bullet Journal na minha vida, porque passei a fazer listas do que eu pretendo ver ou ler naquele ano. Acabei abandonando a de filmes, não funcionou bem, mas a de livros foi uma das melhores decisões que eu tomei. Todo final de ano ao montar o Bullet do ano seguinte eu passo pela lista de livros não lidos e seleciono com alguma variedade e registro no Bullet. Isso acabou me ajudando a desencalhar livros que estavam aqui há mais de 10 anos, e a ter uma variedade maior nas minhas leituras.
O episódio do Rádio Novelo Apresenta recomendou o livro A Vertigem das Listas, do Umberto Eco, que também era um aficionado por listas. Fiquei muito curioso, mas está meio esgotado, então deixei na…lista. Já me indicaram também sites especializados em listas, apps voltados para isso, e eu costumo guardar o link mas tenho receio de entrar e não conseguir mais sair, ficar preso em listas e listas, planejando o não-executável.
E você, caro leitor, faz listas de alguma coisa? Nem que seja lista de compras? Gosta de planilhas como eu? Vive nesse delicado equilíbrio entre a organização e o excesso de rigor?
Um Filme: Jornada nas Estrelas: Insurreição
Eu na verdade não gostei muito desse filme, mas não podia começar recomendando Duna: Parte Dois de novo, pois fiz isso duas edições atrás, já que o revi no último final de semana. Então falemos de Star Trek. Eu estou vendo as séries aos poucos, vocês sabem. E os filmes de Star Trek: The Next Generation estou vendo conforme avanço em Deep Space Nine e Voyager, para seguir mais ou menos a ordem de lançamento.
Este terceiro filme é muito fraco, especialmente pela insistência em enquadrar Picard como um herói de ação, quando ele não era assim na série. É incrível como não conseguem fazer um filme mais fiel ao espírito dos personagens. E também não sabem dividir o tempo de tela, o resto do ótimo elenco vai ficando escanteado, com um pouco mais de espaço apenas para Data. Apesar disso, a premissa é interessante, a parte das ideias funciona.
Leia a minha opinião completa sobre o filme no Letterboxd: Jornada nas Estrelas: Insurreição
Onde ver: Paramount+
Outros filmes que (re)vi recentemente:
Duna: Parte Dois (Cinemas)
Uma Série: Star Trek: Voyager - 4ª Temporada
E já que estamos falando de Star Trek, acabei recentemente a quarta temporada de Voyager. Picard ainda é meu capitão favorito, mas Janeway está chegando lá. E são muitos personagens bons. Além de Kathryn Janeway, Chakotay, o Doutor, Tuvok e B’Elanna são meus favoritos, mas o único que realmente não curto muito é Paris. Ainda não teve uma temporada totalmente constante, mas esse é o padrão das séries episódicas dessa época. Então a quarta seguiu a alternância de alguns episódios mais fracos e outros ótimos. A chegada de Seven of Nine trouxe reflexões inéditas na franquia até aqui e estou gostando do caminho. Agora vou acabar Deep Space Nine e retorno para três temporadas seguidas de Voyager.
Onde ver: Netflix
Um Podcast: Pouco Pixel - Chronopedia
Eu já contei que não sou muito de videogames. Gosto, mas despriorizei na vida. Porém, o Pouco Pixel, que é um podcast de games bem focado na época até o Super Nintendo, está fazendo uma temporada chamada Chronopedia, que busca contar a história dos videogames de maneira cronológica. Essa semana saiu o sétimo de 12 episódios previstos e tem sido muito interessante compreender detalhes de como foi, por exemplo, a disputa entre a Sega e a Nintendo no início dos anos 90.
Ouçam no seu agregador favorito ou no link abaixo:
https://poucopixel.com/podcast/chronopedia-1-origens/
Uma Newsletter: Segredos em Órbita - Capitalismo, democracia e outras drogas, por Vanessa Guedes
A Vanessa hablou tudo, como dizem os jovens. A partir de um questionamento de um leitor, ela discutiu porque o capitalismo não é a resposta para os nossos problemas. Edição imperdível da sempre ótima newsletter Segredos em Órbita.
Leiam:
Aqui o colecionismo vem de berço! Herdei da minha mãe as coleções de figurinhas, papéis de carta e bibelôs. Fui uma criança muito empenhada em completar as coleções de kinder ovo, os álbuns de figurinha de todas as princesas Disney. Minha mãe adorava um fascículo, comprou toda a coleção de fitas VHS do Castelo Rá-tim-bum e do Disney Magic English, coleções de copos e panelas da Revista Caras e uma coleção de revistas de confeitaria que vinham com apetrechos (não somos confeiteiras). Adulta o que eu mais coleciono mesmo são livros (fui assinante da TAG por 5 anos e agora sou da Círculo de Poemas), embora não seja tão organizada (me contento com o Goodreads). Faço listas de mercado, listas de convidados para eventos que organizo, tento registrar os filmes no Letterboxd. Por mais que eu adore um caderno e uma agenda, nunca me aventurei no bullet jorunal. O máximo que faço na agenda é criar uma lista de tarefas praquele dia, mas nem sempre eu cumpro.
Caramba, poucas vezes me identifiquei tanto com um texto. Eis aqui outra aficcionada por listas.