Não posso prometer nada, mas tem crescido em mim a vontade de escrever ficção novamente. Um embrião de história já passeia pelos meus neurônios. Tenho tempo? Não. Mas tudo é uma questão de prioridades e estou pensando seriamente em reservar momentos da minha semana para a escrita.
Pensei em começar com uns contos, de repente Solarpunk, para atender à minha própria demanda na edição anterior. Mas meu coração pede mesmo algo longo. Porque eu sou um apaixonado por histórias. Complexas, com reviravoltas, personagens instigantes, ideias mirabolantes.
Como esse assunto tem sido uma constante em meus devaneios, decidi contar um pouco da minha história como escritor de ficção. Já abordei pedaços soltos aqui e ali neste espaço, mas nunca assim.
Tudo começou na transição da infância para a adolescência. Eu era leitor desde muito novo, especialmente de quadrinhos, mas a essa altura também de alguns livros, como os dos Karas, de Pedro Bandeira, e os da Agatha Christie. Minha principal brincadeira de criança era com bonecos dos Comandos em Ação. E nessa transição as brincadeiras foram ficando mais elaboradas, com vários personagens definidos e às vezes até um ou outro plot twist. Foi quando percebi que eu me divertia mais planejando a brincadeira do que brincando.
E assim parei de brincar. Eu tinha uns 14 anos. Era viciado nos quadrinhos dos X-Men e comecei a planejar minhas próprias revistinhas de heróis. Eu sonhava em ter alguém para desenhar, mas como nunca tive acabei só bolando as tramas. Nessa época eu não efetivamente escrevia, com detalhes. Eu só fazia outlines. Dividia os personagens em equipes, criava triângulos amorosos, vilões que se tornavam anti-heróis… Um amigo de infância desenhou vários desses personagens pra mim, inclusive ainda tenho uma dessas artes, mas não posso postar aqui ou ele teria um ataque, pois segue como artista e um bilhão de vezes melhor.
Planejei minhas histórias de heróis até os 16 ou 17 anos, creio. Foi quando veio a Universidade, eu me vi em um grupo de amigos, jogando RPG, empolgado com tudo aquilo. Cheguei a ajudar a bolar um cenário medieval que, como tudo que eu planejava à época, era megalomaníaco. Dependia de vários grupos jogando em paralelo, algo que nunca aconteceu.
Pouco depois do carnaval de 2001, meu grupo de amigos tinha sete pessoas e alguns de nós fomos assistir a O Tigre e O Dragão no cinema. Eu saí completamente empolgado com as cenas de luta e decidi escrever uma história de samurais (eu sei que o filme é na China e não no Japão, mas a inspiração ajudou). Na mesma época esse grupo estava montando um zine sobre cinema, RPG, variedades e eu decidi que queria lançar capítulos dessa história no zine, como um folhetim. Pedi para cada um dos amigos montar um personagem e assim surgiu A Lenda dos Sete Samurais.
Esse foi o meu único romance a ser concluído. Jamais verá a luz do dia, provavelmente só umas cinco pessoas o leram por inteiro. Mas durou 30 capítulos, lançados mensalmente entre 2001 e 2003 e eu revisei tudo ao final, imprimindo uma versão completa que tenho até hoje, com pouco mais de 70 mil palavras. O zine teve três ou quatro números só, mas fiquei escrevendo, imprimindo os capítulos e emprestando pros poucos interessados. Era repleto de clichês, diálogos expositivos e reviravoltas previsíveis. Mas foi um período maravilhoso, esse.
E me empolgou para escrever. Nessa época eu fui tendo várias ideias, lendo sobre mitologia, etc. Decidi em algum momento criar um site que se chamava Fanzine Ragnarok (não, não era exatamente um zine nem era fã de nada, não perguntem XD), que esteve no ar entre 2002 e 2006, e onde eu publicava minhas histórias e as de quaisquer pessoas que me pedissem. Poesia, contos, capítulos de obras mais longas, eu revisava e publicava.
Entre 2002 e 2003 decidi que queria escrever sobre minhas falhas aventuras amorosas. Então comecei o que hoje seria considerado um YA, mas cujo planejamento foi crescendo até englobar uns 10-12 anos da vida do protagonista, começando aos 14 ou 15. Tinha muitos traços autobiográficos, mas aos poucos foi se tornando algo mais idealizado do que realista, embora eu tenha chamado o livro de A História Real da Vida Real, que fui levando até 2007 e que chegou a 70 capítulos e umas 50 mil palavras, mas ainda estava um pouco antes da metade do que eu planejava quando abandonei. Me diverti um pouco relendo o planejamento essa semana, mas essa também é uma história que não verá a luz do dia, embora tenha servido de válvula de escape emocional e de prática da escrita, claro.
Entre 2006 e 2007 eu me aventurei nos contos pela primeira vez. Devo ter feito uns quatro ou cinco e ainda gosto de um ou dois desses, que pode ser que eu resolva revisar e postar aqui algum dia. Eu planejei um projeto de escrever contos inspirados em músicas, mas cheguei a fazer apenas um. E cogitei uma história que hoje vejo que era meio Cyberpunk, num mundo dominado pelo Google.
Também em 2007 comecei a planejar uma narrativa um pouco mais madura, que chamei de O Mistério dos Assassinatos em Sânscrito e era um romance policial, um pouco Agatha Christie mas numa vibe mais neo-noir, talvez, com investigação policial mesmo, um pouco de CSI, etc. Comecei, mas abandonei no oitavo capítulo.
Em 2007 eu me mudei para Brasília e aqui a vida era repleta de possibilidades, programas culturais, cinemas, banda larga e TV a cabo em casa para ver mais séries e filmes, e aos poucos eu fui abandonando o tempo que dedicava à escrita em prol dessas outras opções. Absorver cultura em vez de produzir.
Nessa época criei um blog (que por sinal se chamava Toca do Lobo e deve ter sido a primeira vez que adotei esse nome), que nunca foi extremamente ativo, mas desde então nunca parei de escrever meus reviews de filmes, de livros, opiniões e talvez até crônicas. Então, em 2011, eu decidi que queria voltar a escrever ficção, mas agora de maneira estudada. Comprei uns 10 livros teóricos, alguns meio bobos mas outros bem interessantes, e li todos, efetivamente me preparando. E nunca passei daí. Me casei em 2013 e aí que o tempo ficou escasso mesmo.
Em 2016 cheguei a fazer um curso do Eric Novello, que foi onde efetivamente escrevi minhas últimas sentenças ficcionais, para os exercícios.
E de 2017 em diante passei a ouvir os mais diversos podcasts de escrita criativa e de literatura. Decidi em algum momento depois disso que eu queria escrever Ficção Científica, fui atrás de estudar o gênero, de ler muitas obras, os clássicos e outros mais contemporâneos, e novamente não passei disso. Eu sei. Quem muito se prepara nunca faz nada.
Mas talvez agora aconteça. É curioso, porque quando eu escrevia não existia a autopublicação via Amazon que existe hoje. Se eu tivesse continuado sem pausas poderia ser até um veterano desse mercado de Literatura Fantástica Nacional, que hoje é forte e funciona muito bem. Eu considero que nunca é tarde e não tenho pressa. Sei que em algum momento vou escrever, essa é uma certeza.
Mas tem uma ou outra pessoa que me lê que escreve ficção. Como foi a sua jornada? Resume pra gente nos comentários.
Um Filme: A Substância
A temática discutida em A Substância é significativa e poderia ter sido abordada de várias maneiras, mas a diretora Coralie Fargeat decidiu discutir através de um body horror com boas doses de fantástico e até um pé no surrealismo. De certa maneira a premissa serviria como um interessante conto de ficção científica. O elenco é excepcional e o trabalho de maquiagem impecável. Talvez seja uma abordagem rasa e muito direta, pouco reflexiva. Mas acredito que funcione assim para uma parte do público. Me incomoda o trecho final, acho que o longa não soube a hora de acabar.
Leia a minha opinião completa sobre o filme no Letterboxd: A Substância
Onde ver: Cinemas
Outros filmes que vi este mês:
As Três Filhas (Netflix)
Um Livro: As Águas-vivas Não Sabem de Si, de Aline Valek
Não sei como, mas eu estava devendo ler o primeiro romance publicado pela Aline Valek. Eu me tornei admirador do trabalho dela pelo podcast e depois pela newsletter para só então chegar aos livros. Li primeiro Cidades Afundam em Dias Normais, pois foi selecionado em um clube de leitura que participo. E finalmente li Águas-vivas. Gostei até mais do que do segundo, especialmente da atmosfera e da construção da tensão.
Leia a minha opinião completa sobre o livro no Goodreads: As Águas-vivas Não Sabem de Si
Um Quadrinho: Saga - Volume 11
A obra de Brian K. Vaughan e Fiona Staples é um dos quadrinhos mais interessantes dos últimos anos. Eu tenho comprado pouco material em quadrinhos, especialmente dos EUA. Mas por se tratar de uma Space Opera acabei curioso e não me decepcionei. Sinto falta ainda de um personagem que eu realmente goste e torça por ele, mas a narradora, Hazel, cada vez mais se aproxima dessa posição. Serão 18 volumes, então ainda levará alguns anos para a conclusão. Neste 11º, segue a loucura de reviravoltas, com Hazel, Alana e a criança-robô tentando mais uma vez ficar em segurança.
Um Podcast: Feito por Elas 205 - Melhores Filmes da Década de 1990
O belo projeto Feito por Elas segue firme e forte como o site (e os ótimos grupos no Telegram) mas o podcast está em hiato. Todavia, como elas organizaram essa votação com mais de 30 mulheres críticas de cinema brasileiras, resolveram gravar um episódio especial comentando. Então se você gosta de cinema, confira essa lista com os 50 melhores filmes dirigidos por mulheres na década de 90. A página tem o link para a lista completa.
Ouçam no seu agregador favorito ou no link abaixo:
https://feitoporelas.com.br/feito-por-elas-205-melhores-filmes-da-decada-de-1990/
Uma Newsletter: Uma Mulher que Escreve #94 - Refugiados do Twitter pedem abrigo no Bluesky, por Lethycia Dias
Como falei recentemente sobre a minha relação com as redes sociais, achei interessante esse ponto de vista da Lethycia sobre o bloqueio do Twitter e a invasão brasileira ao Bluesky. Diferente de mim, ela tem uma visão de autora, que precisa das redes sociais como forma de divulgação também.
Leiam:
Consegui entrar "na Toca do Lobo" e fiquei admirada com tanta informação cultural que, eu sequer imaginava existir! E quanto ao início da escrita de um livro, seja qual gênero for, para mim, faz sentido salientar uma frase de uma música do Geraldo Vandré: "Quem sabe faz a hora, não espera acontecer"! Confie no seu Potencial e Voe Alto!!! Estarei sempre aqui para Aplaudir de Pé!
Ansiosa pelo 'vem aí', espero em breve poder ler suas obras, especialmente ficção.