Já faz um tempo que eu queria escrever aqui sobre Bullet Journal, mas não sabia bem como abordar. Decidi então contar a minha jornada com a metodologia e trazer algumas imagens exclusivas dos meus BuJos ao longo dos anos.
Como uma pessoa que gosta de planejamento, eu naturalmente já havia testado algumas técnicas, da agenda convencional ao Google Calendar. Mas em geral não seguia usando por muito tempo. Talvez fosse o momento ou o fato de eu ter uma memória em geral muito boa para datas e compromissos. Então até 2018 eu simplesmente não anotava nada e lembrava dos principais compromissos.
Eu honestamente não lembro como ouvi falar do método Bullet Journal, criado por Ryder Carroll (que tem um livro sobre e vende acessórios e cursos também), mas com certeza foi neste ano de 2018. E chegou numa hora em que eu percebi que ocasionalmente esquecia tarefas menos importantes. Os compromissos e os aniversários não. Mas que naquela semana precisava comprar alguma coisa ou lavar um edredom porque o frio estava chegando, sei lá.
E exatamente por gostar de planejar, a liberdade do BuJo me cativou. E eu resolvi experimentar mais porque realmente queria me divertir nesse planejamento do que pela necessidade. Assim, comecei a pesquisar. Li dúzias de páginas sobre, dicas, guias de como fazer, etc.
Há basicamente dois caminhos extremos e a maioria das pessoas tá em algum lugar no meio:
O caminho do Ryder Carroll é o da simplicidade. O método dele é flexível o bastante para você fazer como quiser, e para não afastar aqueles menos artísticos (como eu, diga-se de passagem), os exemplos dele são sempre muito diretos, coloca a data e pontos (bullets) com as atividades do dia, que você transforma em X quando completa;
E o caminho do pessoal do lettering. Pra quem gosta dessas coisas, o BuJo é uma festa. Washi tapes, marcadores de trocentas cores, adesivos, todo o material de desenho para fazer do seu Bullet uma obra de arte. Pesquisem no Pinterest ou no Instagram e vão ver.
Tem gente que tem medo do método por achar que a segunda é a única opção. Mas vejam e me digam, se esta página extraída do site oficial do método traz alguma dificuldade técnica:
Então isso me fez decidir que valeria a pena testar. Comprei um caderno pontilhado, algumas canetas de nanquim e preparei meu primeiro caderno, para começar 2019. Faço um por ano, então estou atualmente no sexto caderno.
O método sugere algumas seções características, mas cada um pode usar só as que fizerem sentido. Mencionarei a legenda, o índice, o Log Anual, o Log Mensal e o Diário. E há as coleções, que são páginas livres para anotar filmes a ver, livros lidos, metas, qualquer coisa que dê vontade.
Inicialmente pode-se fazer uma legenda, explicando, por exemplo, que um ponto é uma atividade, um pequeno círculo aberto um compromisso com horário marcado, um ponto que virou um X é uma atividade feita, tal qual o círculo fechado o compromisso cumprido. Um sinal de menor antes de um item está adiando-o para alguma data futura, um sinal de maior após o item o adia para amanhã. E assim vai, há algumas ideias e cada um pode customizar, tipo colocar um asterisco para denotar relevância.
Depois, vem o índice, que é útil para achar uma coleção específica. O método sugere que não há página certa para as coisas, que se pode interromper um fluxo de dias com uma coleção e depois retomar esse fluxo, basta especificar isso no índice. Por isso que, além de um caderno pontilhado ajudar, se ele for numerado é mais fácil ainda. Mas dá pra fazer de qualquer jeito, eu numerei muitos na mão.
Outra seção é a do Log Anual ou Future Log, onde se faz um macro planejamento do ano. Eu costumava anotar todos os compromissos médicos aí, hoje só faço se forem marcados para meses subsequentes, senão deixo no mensal. Mas sigo colocando aniversários e outras datas relevantes, e gosto de ter a seção basicamente como um calendário.
Depois vem o Log Mensal, que é o planejamento do mês. O Ryder sugere que seja bem simples, uma linha por dia e ali algum compromisso da data. Testei vários formatos e gosto de ter algo mais com cara de mês do calendário mesmo, mas dá um pouco de trabalho com a régua. Associado ao Log Mensal costuma ter um Habit Tracker, ou rastreador de hábitos. Tem gente que leva isso ao extremo, registrando duas dezenas de itens. Eu gosto de anotar minhas horas de sono, se li 30 minutos no dia e coisas assim. Mas é completamente desnecessário se não lhe fizer sentido.
Acerca do registro diário, que é a essência do BuJo, a ideia é simplesmente anotar ali as coisas a fazer no dia seguinte e ir marcando conforme as concluir. Eu comecei bem direto, como o método sugere. Mas logo percebi que adotar um modelo semanal funcionava melhor pra mim. Todo domingo à noite faço a migração da semana, ou seja, desenho as linhas da semana seguinte e registro já os pontos de destaque dia a dia, como aniversários e compromissos. Toda noite antes de dormir planejo o dia seguinte. E sempre que surge um compromisso novo eu já vou lá e registro, seja no dia da semana, se for na mesma, ou no mensal ou até no anual.
Por fim, trouxe algumas coleções para dar uma ideia das que costumo fazer.
Em resumo, o essencial do método Bullet Journal é a flexibilidade. Se pra você o que funciona é planejar só o mês, não faça o diário. Ou o oposto. E, claro, use o BuJo se achar que é pra você. Tá tudo bem preferir outros métodos ou até guardar tudo na cabeça. A ideia aqui era só transmitir uma noção de como eu faço meu planejamento diário. Mas me contem, vocês usam alguma ferramenta para planejamento? Qual?
Um Filme: O Quarto ao Lado
Quanto mais eu penso no novo filme do diretor espanhol Pedro Almodóvar, mais eu gosto dele, embora seja uma experiência muito diferente do que estamos acostumados em sua filmografia. Além do idioma, o cenário também carece da latinidade e da sensualidade sempre tão presentes em sua obra. Mas podemos considerar que tanto Dor e Glória quanto Mães Paralelas, seus dois longas anteriores, tratavam de morte e perda. Assim, O Quarto ao Lado prossegue nessa discussão, abordando outro lado dela. Ao contar com Julianne Moore e Tilda Swinton, é claro que o filme é muito bem atuado.
Leia a minha opinião completa sobre o filme no Letterboxd: O Quarto ao Lado
Onde ver: Cinema
Outros filmes que vi este mês:
Megalópolis (Cinema)
Central do Brasil (Globoplay)
Uma Série: A Amiga Genial - 4ª Temporada
A série que adapta a tetralogia napolitana, da Elena Ferrante, chegou ao final no dia que antecede a publicação desta newsletter. E eu fui dormir tarde para ver na hora do lançamento. Os livros são maravilhosos, mas entre estes o último foi o que eu menos gostei, embora ainda tenha adorado. Por outro lado, a quarta temporada da série foi a minha favorita. Eu acho que justamente por eu ter menos apego ao livro, não me ressenti de cortes, de questões apressadas e, pelo contrário, achei que lidaram com a passagem do tempo melhor na TV que no livro, que é um pouco truncado em sua segunda metade, por precisar cobrir muitos anos em poucas páginas. Pude praticar o esporte preferido de todo leitor da obra, que é odiar Nino Sarratore. Pude me encantar com a atriz Alba Rohrwacher, que narra a série desde o piloto, mas nesta temporada assume a face de Lenu, e é uma atriz muito mais competente que Margherita Mazzucco, que interpretava a personagem antes, e começou fraquinha mas foi evoluindo, o que de certa forma combinava com o amadurecimento da protagonista. Aliás, a produção da série é absolutamente impecável, com a recriação das épocas, a escolha do elenco, do figurino, da fotografia, da trilha sonora, tudo impressiona. Estou um pouco triste por ter acabado, mas ao mesmo tempo feliz por ter sido tão bem feita a adaptação.
Onde ver: Max
Outra Série: Star Trek: Voyager - 5ª Temporada
Voyager está muito perto de se tornar minha série favorita de Star Trek até então. Eu sei que essa é uma escolha inusitada, pois os clássicos gostam da original, os moderninhos de Deep Space Nine e talvez a maior parte de The Next Generation, que por enquanto segue como minha favorita. Eu acho que Picard ainda é meu capitão preferido e Data um dos melhores personagens. Mas Voyager é fascinante e esta quinta temporada foi a melhor das cinco. Janeway é incrível, o Doutor também. Eu gosto de todo o elenco, aliás. A temporada traz um episódio maravilhoso ambientado no futuro, outro com uma discussão sobre a ética do Doutor e um season finale completamente inesperado. A verdade é que já estou sofrendo por saber que faltam apenas duas temporadas para acabar.
Onde ver: Netflix
Um Podcast: Ludogênese #7 - Manuais, regras e outras escritas em jogos de tabuleiro
Conheço o Gustavo do grupo de apoiadores do podcast Pistolando e faz alguns meses que ele decidiu lançar esse trabalho sobre seu novo hobby, que é design de jogos de tabuleiro. O Ludogênese, como seu nome pode prenunciar, não é sobre os jogos, mas sim sobre a confecção deles. O formato do podcast é de entrevista com game designers brasileiros de sucesso, abordando temas específicos. Nesta edição mais recente, o tema é a elaboração dos manuais e eu, que sou apenas um jogador moderado, achei fascinante.
Ouçam no seu agregador favorito ou no link abaixo:
https://ludopedia.com.br/topico/83261/-07-manuais-regras-e-outras-escritas-em-jogos-de-tabuleiro
Uma Newsletter: Às vezes eu falo de rio e de mar, por Fernanda Castro
A indicada ao Jabuti Fernanda Castro tem uma newsletter e nessa edição ela publicou um conto que havia saído na Revista Pretérita, ambientado em uma Recife do início do Século XX e envolvendo regatas nos rios recifenses e luta de classes, vejam só.
Leiam:
https://asvezeseufalo.substack.com/p/as-vezes-eu-falo-de-rio-e-de-mar/
Também estou triste com o final da série "A Amiga Genial" e compartilho de todas as sensações: esporte de odiar Nino, escolha acertada na passagem do tempo e principalmente na escolha dos atores (principalmente Lenú e Lila) e também me sentindo órfã de todo o universo de Elena Ferrante!
mais um da editoria "admiro, mas não pratico" hehehe