O ser humano é um animal social. Uns de nós mais, outros menos. Mas de maneira geral, faz parte da experiência humana conviver uns com os outros e depender dessa convivência para um bem estar. Somos gregários. Nem todo mundo gosta de festa, mas a maioria aprecia minimamente encontrar uma ou duas pessoas mais queridas de vez em quando.
Mas eu creio que muita gente acaba formando grupos. Com graus diferentes de proximidade, com níveis de intimidade distintos entre membros de um mesmo grupo, mas ainda assim um ou mais grupos.
Um grupo às vezes se forma pela ocasião. As pessoas trabalham na mesma sala e vão almoçar no mesmo self-service todos os dias. Ou são colegas de classe no colégio, na faculdade, no curso de dança, na escola de música, no pole dance.
E às vezes o grupo se forma graças a algum interesse em comum: jogos de tabuleiro, futebol, cinema, poesia ou arte abstrata.
Muitos grupos são presenciais, como a maior parte dos exemplos acima. Mas também há os grupos virtuais, ocasionalmente materializados em um grupo literal em uma ferramenta de mensagens como o Telegram, o Whatsapp ou o Facebook, ou ainda em um fórum online.
Eu tive alguns grupos presenciais ligados ao trabalho, especialmente no meu primeiro emprego de Brasília e na área onde trabalhei oito anos na Infraero e almoçava quase sempre com as mesmas pessoas. Já tentei algumas vezes formar grupos de amizades, amigos que se encontravam uma vez por mês ou até mais. Mas é difícil manter um grupo um pouco maior nessas condições, as pessoas são gregárias mas são complexas e brigas acontecem e vidas mudam.
Sobre os grupos virtuais eu falei tangencialmente aqui sobre vários dos quais fiz ou faço parte.
Mas o objetivo desta edição da newsletter na verdade era falar de um grupo em específico: o grupo de escritores de newsletter. Esse grupo tem um local definido, no Telegram, mas nem todos estão lá e nem o grupo em si é tão ativo. Mas não deixa de ser uma comunidade mais ampla, que contempla o grupo mas também a rede de pessoas que recomendam umas às outras, que comentam nas primeiras publicações e fazem essa máquina de incentivo funcionar.
Em 2022 a Vanessa Guedes, da newsletter Segredos em Órbita, e que eu já conhecia, vejam só, de um outro grupo no Facebook, reuniu um monte de gente legal e organizou um evento chamado O Texto e O Tempo, com mesas redondas e discussões sobre newsletters. Eu já vinha pensando em criar uma e decidi participar. Saí empolgado e fervilhando de ideias, que pus em prática no início de 2023.
Em 2024 aconteceu uma edição especial, uma maratona de pequenas palestras para arrecadar fundos para os desabrigados da tragédia climática do Rio Grande do Sul. Esta eu não consegui participar.
Mas agora, neste final de semana 5 e 6 de julho, aconteceu a terceira edição. Quase não me inscrevi porque tinha um monte de coisas para fazer em casa e achei que não conseguiria aproveitar. Mas ainda bem que decidi tentar, pois foi um final de semana memorável. Seis mesas redondas e três workshops, todos ótimos.
E tão importante quanto o conteúdo discutido foi o senso de comunidade. Os comentários no chat, as trocas entre os palestrantes e nós assistindo, tudo isso ajuda a passar uma sensação de comunidade, um calor por sentir que estamos aqui juntos.
É claro que as pessoas têm objetivos diferentes com suas newsletters. Algumas querem crescer, têm metas, produção intensa, desejo de monetizar e ter alguma renda com base na news. Outras, como eu, só querem um lugar onde escrever. Mas seja como for, saber que essa comunidade existe nos ajuda a prosseguir.
E é por isso que eu acho importante buscar seus grupos, se integrar. Eu nem conhecia boa parte dos palestrantes e nem assino as newsletters até de alguns dos que eu conhecia, pois não dou conta de ler as que já assino. Mas apesar disso me senti parte do grupo, e saí renovado, com ideias e desejos para a minha newsletter.
Se você tem ou quer ter sua news, recomendo ficar de olho na newsletter do evento e ficar sabendo das próximas edições, porque vale muito a pena. E venha fazer parte dessa comunidade.
Um Filme: Tartarugas até lá Embaixo
Confesso que peguei este filme apenas por curiosidade de ver a atriz Isabela Merced fora do papel da Dina de The Last of Us. E, claro, eu sabia que era um coming-of-age, gênero que me agrada demais e sobre o qual ainda pretendo falar aqui. Eu também sabia se tratar de uma adaptação de livro de John Green, então prometia funcionar bem para garotas adolescentes. Mas minha expectativa era baixa. E acabei me surpreendendo. Não é um grande filme, mas traz um retrato interessante de saúde mental para além da depressão, pois a protagonista tem Transtorno Obsessivo-compulsivo e esse assunto é abordado com seriedade. Também me encantei com a amizade das duas personagens principais.
Leia a minha opinião completa no Letterboxd: Tartarugas até lá Embaixo
Onde ver: Max
Um Podcast: Overinvested 319 - Wes Anderson's The Phoenician Scheme
Eu não tenho muito hábito de ouvir podcasts em inglês sobre cinema. Até gostaria de ouvir mais, mas vou adiando pela dificuldade de acompanhar todos que já gosto. Mas resolvi dar uma chance para este que me indicaram e gostei bastante. As discussões conduzidas pela host Gavia são sempre fascinantes, muitas vezes abordando detalhes de figurino e produção de arte que não vejo comentados com frequência. Nesta edição o tema é o cinema tão estilisticamente padronizado do Wes Anderson, em particular O Esquema Fenício.
Ouçam no seu agregador favorito ou no link abaixo:
https://www.overinvestedpodcast.com/episodes/the-phoenician-scheme-wes-anderson-review
Uma Newsletter: Segredos em Órbita - Ninguém vai sobreviver sem enlouquecer, por Vanessa Guedes
Como a edição de hoje foi inspirada pelo evento que ela concebeu (e organizou com várias outras pessoas, não sozinha), nada mais justo do que encerrar recomendando a newsletter Segredos em Órbita. Esta, em especial, me tocou particularmente por trazer essa ideia de nós todos seguindo vidas supostamente normais enquanto o mundo acaba, em guerra mas também em colapso climático.
Leiam:
elvis querido, sorte nossa você estar presente ❤️
Os grupos fazem muita falta. São referências de quem somos, eu acho. Vejo isso com grupos de amigos antigos ou na amizade de longa data com algumas pessoas. Essas pessoas nos conheceram em momentos distintos e isso traz um senso de identidade. Atualmente, me sinto sem comunidade na internet, sem um grupo de interesses em comum. Talvez as newsletters ajudem nisso. Participo pouco dos Valekers, que já é alguma coisa, mas tenho dificuldade de acompanhar. Um abraço!