Já vou começar trazendo duas edições anteriores.
Alguns meses atrás eu escrevi um pouco sobre como definir Ficção Científica:
E mais recentemente, discorri acerca da categorização da arte, o que senti ser um passo necessário para chegar a esta edição:
Se já é difícil categorizar as obras em gêneros (Duna, de Frank Herbert, é Fantasia ou Ficção Científica?), imagine tratar de subgêneros? As fronteiras vão ficando cada vez mais turvas e boa parte das obras podem se adequar em mais de uma categoria. Então não levem nada disso aqui muito a sério, pois é só uma de várias maneiras úteis para separar obras que podem nos chamar a atenção.
Esta minha brincadeira será dividida em várias edições da newsletter, talvez umas quatro. Para começar, abordarei subgêneros clássicos e mais claramente lembrados quando falamos de Ficção Científica, embora os dois últimos façam pontes com a Fantasia. Eu diria que são subgêneros que vêm dos primórdios da Ficção Científica, inclusive alguns não estão mais muito na moda.
Hard Sci-Fi
Se existe um Hard Sci-Fi, existe um Soft Sci-Fi? Bem, depende, pode-se ter duas acepções desse subgênero: primeiro, em hard science X soft science, onde as ciências “pesadas” seriam as mais exatas e biológicas e as “suaves” seriam as humanas; mas eu gosto mais da segunda definição, que diz que este é o subgênero em que há um foco em rigor científico, seja este o funcionamento da gravidade nas naves espaciais (como na série de livros The Expanse, de James S.A. Corey, adaptada para uma série de TV), seja uma discussão sobre anarquismo e a dificuldade do ser humano de construir uma sociedade igualitária (Os Despossuídos, da Ursula K. Le Guin).
Para quem prefere o contraste entre hard e soft, podemos tratar de dois subgêneros, cada um focado em um tipo de ciência. Mas unificando-os sob um único patamar, podemos abordar qualquer obra que traga alguma discussão minimamente científica como Hard Sci-Fi. Lembrando que raramente um livro se enquadra em um único subgênero, então tudo bem uma Space Opera (detalhes logo adiante) ser também Hard Sci-Fi (Star Trek) ou ser mais Science Fantasy (Star Wars).
De toda forma, este é o subgênero quintessencialmente reconhecido como Ficção Científica. Inclusive, muitas pessoas que têm receio de ler Sci-Fi em geral acham que vão encontrar só explicações pesadas de Astrofísica ou Inteligência Artificial. E essa é apenas a ponta do iceberg. Mas é claro que muitos dos clássicos da FC se encontram aqui, como boa parte das obras de Isaac Asimov e Arthur C. Clarke.
Sci-Fi Militar
Numa primeira impressão esse pode ser um subgênero não tão atrativo, afinal tende a trazer um discurso militarista ao qual estamos até habituados graças às dúzias de filmes de guerra dos EUA. Porém, as obras, que misturam um cenário futurista e tecnológico com exércitos e incursões militares, muitas vezes se utilizam desse expediente justamente para criticar o militarismo exacerbado das potências imperialistas.
Dito isso, eu acho saudável ter uma pulga atrás da orelha ao ler obras como Tropas Estelares, do Robert Heinlein ou A Guerra do Velho, do John Scalzi. Mas podem ser divertidas, a ação empolgante e até a estratégia. E há de fato algumas críticas interessantes que podem levar algumas dessas obras a serem lidas como antimilitaristas, como talvez possa-se afirmar de O Jogo do Exterminador, do Orson Scott Card.
Space Opera
Teoricamente o termo significaria algo como novela espacial. Mas eu considero que qualquer obra que envolva viagem espacial é Space Opera, inclusive as mais Hard Sci-Fi como Perdido em Marte, não deixam de ter um pezinho na Space Opera, afinal existe uma nave, existe um drama sobre o combustível, a velocidade… Star Wars e Star Trek, como eu mencionei mais acima.
The Expanse, Interestelar, A Longa Viagem a um Pequeno Planeta Hostil (Becky Chambers)… As Space Operas remontam principalmente aos anos 50, e de fato eram aventurescas, com uma vibe meio Flash Gordon. Mas hoje o subgênero consegue tratar de temas mais sérios, discussões sobre futuros possíveis e problemas sociais, como The Expanse e as obras da Becky Chambers. Eu, particularmente, gosto muito desse subgênero. Foi navinha, chamou a minha atenção.
Science Fantasy
A fronteira entre Ficção Científica e Fantasia. Star Wars está aqui novamente, afinal os jedis têm poderes mágicos como numa história fantástica, apesar de todo o background ser de naves, droides e tecnologia… Quando há um mix de elementos tecnológicos e fantásticos às vezes se usa essa classificação de Science Fantasy.
Eu gosto de enquadrar Duna aqui também. Provavelmente chateia aqueles que o consideram um Sci-Fi por causa das naves, outros planetas… E também deve chatear os que creem se tratar de uma Fantasia beirando o clássico. Mas não é isso? Há pessoas com poderes especiais, há criaturas praticamente mágicas, mas há armas tecnológicas, escudos que são como campos de força, trajes que reciclam a água do seu corpo, etc. Paralelamente, Duna pode ser considerado do último subgênero dessa primeira parte, ou seja...
Romance Planetário
Essa pode ser uma classificação meio esquecida, pois normalmente conseguimos enquadrar em Science Fantasy e em alguns casos é só uma Fantasia mesmo. É um subgênero que nem sempre está dentro do Sci-Fi. Mas engloba as histórias ambientadas em outros planetas. Se o foco está no espaço, Space Opera. Se está num planeta específico, Romance Planetário. A interseção com o Science Fantasy é grande. Vejam por exemplo A Princesa de Marte, clássico de Edgar Rice Burroughs: há uma tecnologia alienígena ali; e aliens, né? Teoricamente aliens são Ficção Científica. Mas de resto a estrutura segue muito a de uma fantasia, com o herói tentando salvar a mocinha e derrotar os vilões.
Como podem ver, a classificação ajuda a catalogar, mas há muita interseção entre gêneros e, principalmente, entre subgêneros. Um episódio de Star Trek com o Kirk brigando com aliens num planeta não pode ser um Romance Planetário? É interessante conhecer os tropos de cada subgênero para saber do que gostamos. Desses cinco primeiros eu curto mais Space Opera e Hard Sci-Fi, mas não tenho nada contra nenhum e leio tranquilamente de todos. E você? Tem algum subgênero que você prefere? Algum que deseja que eu aborde aqui?
Um Curso: Oficina Revelando Segredos, por Vanessa Guedes
A Vanessa é minha conhecida de anos, desde a época da Cracóvia do AntiCast. Ela se tornou especialista no assunto das newsletters após estudar a fundo como fomentar o crescimento da sua e chegar a 3 mil leitores em dois anos. E ela agora decidiu abrir tudo (ou quase) o que descobriu e ministrar uma oficina tanto sobre o planejamento e a escrita em si mas também sobre como as ferramentas digitais podem ajudar a crescer sua newsletter. Saibam como se inscrever abaixo:
https://vanessaguedes.substack.com/p/oficina-revelando-segredos
Um Filme: Evangelion 2.22: Você (Não) Pode Avançar
Se você conhece o anime Evangelion há muito tempo, talvez saiba que são vários finais distintos. A série animada em 26 capítulos termina de um jeito; depois que o pessoal não gostou do encerramento, o criador Hideaki Anno fez um especial com um final totalmente diferente. E o mangá de Yoshiyuki Sadamoto (que é o designer dos personagens do anime, de maneira geral) também traz seu próprio encerramento.
Mas não satisfeito, Anno decidiu refazer a história completa, agora sem as restrições orçamentárias que o anime enfrentou, com o amadurecimento que sua vida trouxe (pois os principais personagens e suas reflexões são baseados nas experiências do próprio autor) e com um fandom imenso que jamais arrefeceu e que até hoje leva o anime a ser um sucesso na venda de produtos derivados, graças à sua identidade visual única e inovadora para a época.
Assim, foram lançados nos cinemas japoneses em 2007, 2009, 2012 e 2021 quatro filmes apelidados de The Rebuild of Evangelion. O primeiro, que vi umas semanas atrás e apenas listei aqui, parece só melhorar um pouco o anime, cortando umas cenas, expandindo outras, incrementando a ação e o visual. Mas este segundo é outra história. O roteiro de Anno toma rumos completamente diferentes da série original, introduzindo até mesmo novos personagens e mexendo um pouco na personalidade de uma das mais queridas personagens de anime da história, Asuka. O resultado me impressionou muito, especialmente na construção da tensão. Quero logo ver os outros dois.
Leia a minha opinião completa sobre o filme no Letterboxd: Evangelion 2.22: Você (Não) Pode Avançar
Onde ver: Amazon Prime Video
Outros filmes que vi recentemente:
O Diário de Bridget Jones (Amazon Prime Video)
Infinitas Terras (Ou Relatos do Meu Tempo em Crise) (em pré-estreia nos cinemas)
Uma Série: Star Trek: Voyager - 3ª Temporada
Mais cedo neste ano indiquei aqui uma temporada de Deep Space Nine, e agora acabei a terceira de Voyager. Eu tenho visto as duas alternadamente pois elas passaram ao mesmo tempo na TV e assim eu não enjoo de nenhuma. Me impressiono como Deep Space Nine e Voyager fogem do padrão estabelecido em The Next Generation, que era basicamente a versão moderna da série original. Em Voyager temos a primeira capitã das séries e talvez tenha sido a série em que me afeiçoei mais rapidamente aos personagens. O que é o oposto de Deep Space Nine, onde fui gostando bem aos poucos, me interessando mais pelas tramas.
Esta terceira temporada traz alguns episódios memoráveis, como um de volta no tempo (um episódio duplo que se assemelha um pouco ao famoso filme da baleia com a tripulação original), um que Janeway parece fadada a morrer, o dos dinossauros inteligentes e o maravilhoso de Kes retrocedendo em sua vida.
Onde ver: Netflix
Um Jogo de Tabuleiro: Welcome To…
No último final de semana fui ao aniversário de uma amiga fanática por jogos de tabuleiro e claro que a festa foi uma grande jogatina. E dos jogos que pude experimentar, meu favorito foi este Welcome To… O jogo traz folhas com um design lindo para usarmos um lápis e preenchermos a partir de cartas na mesa. São três montes de cartas e combinamos o número de uma com o desenho do verso da outra, tendo essas três opções para escolher. Cada número é um número de casa e devemos montar três ruas, com números sempre em ordem crescente. O cálculo da pontuação leva em conta alguns objetivos que podemos alcançar, bem como parques, piscinas e outras formas de pontuar. Me diverti muito e fiquei interessado em jogar novamente.
Um Podcast: The Skeptics' Guide to the Universe
Junto do Xadrez Verbal, este podcast estadunidense é minha companhia dos sábados. O Skeptics’ Guide é um podcast de ceticismo e ciência em geral, focado na discussão de notícias nesses campos e sempre terminando com o ótimo quadro Science or Fiction, em que três manchetes são lidas pelo host e os demais participantes precisam adivinhar qual delas é falsa. Se você ouve em inglês, a última edição está aqui:
https://www.theskepticsguide.org/podcasts/episode-945
Uma Newsletter: Cláudia Fusco
A Cláudia é uma escritora e professora, cuja newsletter é leve como um bate-papo mas muito bem redigida e criativa. Assim como ocorre aqui Na Toca do Lobo, os temas são variados, mas sempre interessantes. Vou recomendar uma edição que ressoou mais fortemente comigo, sobre se assumir como escritor. Eu preciso organizar melhor o meu tempo para voltar a escrever ficção. Pelo menos tentar. Faz tanto tempo que eu nem sei mais se gosto mesmo. Mas leiam a Cláudia:
Elvis, seu lindo, muito obrigada! Adorei a edição, muito completinha <3 Vou maratonar sua newsletter aqui! :D
eu gosto da tua disposição em se debruçar sobre as definições hehe também gosto do didatismo :)
e obrigada por compartilhar o link da oficina! <3