018 - Subgêneros da Ficção Científica - Parte 2
Os subgêneros que nem sempre são considerados FC
Se você não leu a Parte 1, acesse aqui:
Nesta segunda parte da série de subgêneros da FC, trago alguns que nem sempre são considerados como Ficção Científica.
História Alternativa
Algum fato de nossa história não acontece ou acontece de maneira diferente. Como seria o mundo decorrente dessa mudança? E se Vargas não tivesse ascendido ao poder em 1930? E se Jango não tivesse tido sua posse garantida por Brizola em 1961? E se a capital do Brasil tivesse sido transferida para São João del Rei, como sugeriram os Inconfidentes? Estou jogando ideias (podem usar, aceito um agradecimento no final do livro) apenas para exemplificar este subgênero.
Alguns casos mais famosos são: e se os Aliados tivessem perdido a II Guerra (O Homem do Castelo Alto, de Philip K. Dick)? E se Kennedy não tivesse sido assassinado (11/22/63, de Stephen King)?
É Sci-Fi mesmo? Bom, é definitivamente especulativo. Não é fantasia. Normalmente não é terror. Acabam encaixando no Sci-Fi. Mas eu entendo quem ache que não é.
Utopia
Não é toda ficção com sociedades utópicas que pode ser enquadrada como Ficção Científica, mas em alguns casos dá sim. O Fim da Infância, de Arthur C. Clarke, traz uma sociedade onde aparentemente todos são felizes após misteriosos alienígenas terem conduzido a Terra para um período de paz e prosperidade. A Ilha, de Aldous Huxley e Woman on the Edge of Time, da Marge Piercy, são outros exemplos de histórias utópicas com elementos de FC.
Alguns estudiosos consideram inclusive que a clássica Utopia de Thomas More seria um proto-Sci-Fi. Utopia é o lugar que não existe, tão perfeito que seria impossível na nossa realidade. Mas temos visto nos últimos anos um ressurgimento de narrativas levemente utópicas, em subgêneros que discutirei na próxima parte desta série.
Distopia
Se a Utopia é FC, claro que a Distopia também é. Ou não? Bom, a maioria das distopias imagina um futuro terrível, onde há totalitarismo, controle social e as pessoas sofrem por extrema falta de liberdade. Por costumeiramente se passarem num futuro, é comum enquadrá-las em Sci-Fi. Se a Distopia é no presente, então é uma História Alternativa, não? Ou ficção realista, afinal essa vida de capitalismo tardio e o mundo nas mãos das big techs é bem distópica.
Esse é um subgênero com grandes clássicos, como Admirável Mundo Novo, do já citado Aldous Huxley; 1984, do George Orwell; e Fahrenheit 451, de Ray Bradbury. O primeiro, em particular, pode ser considerado utópico também, dependendo de como se olhe. Mas nos outros não, a vida realmente é árdua e firmemente monitorada pelo Estado.
Pós-Apocalíptico
Há histórias que se passam durante uma espécie de apocalipse, como as de zumbis ou de grandes epidemias. É mais comum tratar essas como terror. Mas quando o apocalipse acaba, o que restou da civilização vive sob condições precárias, normalmente com restrição de recursos (seja água, eletricidade, alimentação) e tentando reconstruir um habitat para a sociedade. Estas são as histórias Pós-Apocalípticas.
A série de filmes Mad Max, do George Miller, traz um exemplo de sociedade focada em carros e combustíveis fósseis e extremamente carente em água. Já Um Cântico para Leibowitz, de Walter M. Miller Jr., se ambienta em um mosteiro de um mundo devastado pela guerra nuclear.
Spy-Fi
O último subgênero discutido nesta parte é o que une espionagem e tecnologia, de alguma forma. Histórias de espiões, Guerra Fria, II Guerra, mas nas quais os personagens usam gadgets inventivos. Eu sei, você está pensando em James Bond, e é por aí mesmo. Relógios explosivos, carros anfíbios, dispositivos de rastreio. De maneira similar, as séries de filmes Bourne e Missão: Impossível atualizam esse panorama, com imagens de satélite em tempo real, hackers que descobrem segredos da CIA em cinco minutos, etc.
Mais uma vez pode-se discutir se esse toque de tecnologia é o bastante para que uma história de espionagem se torne Ficção Científica. É um questionamento válido, mas vale lembrar que as barreiras entre os gêneros são fluidas. O foco é espionagem, com a FC de pano de fundo.
Um Filme: Retratos Fantasmas
Entre 1993 e 1999 eu estudei no mesmo colégio de Campina Grande e meu trajeto (de 1995 a 1999 de ônibus, antes teve um período em ônibus escolar e de carona) passava em frente ao Cine Capitólio. O Capitólio ficava numa praça central na principal avenida da cidade, a Floriano Peixoto, e anunciava nos letreiros de sua fachada os filmes em exibição nele próprio e no Cine Babilônia, que ficava bem perto, descendo na lateral do Capitólio. Nessa época, o Capitólio já era decadente e só exibia filmes pornográficos, mas mais novo lembro de ter visto filmes lá, creio que Super Xuxa Contra o Baixo Astral, Meu Primeiro Amor e Ghost sejam alguns exemplos.
Mas em uma época sem Internet ou que ela estava começando, me lembro do sentimento de ansiedade das sextas para que o ônibus chegasse no trecho da rua que dava pra ver a programação, para conferir que filmes estariam em cartaz. Lembro de ir bastante ao Babilônia, especialmente nos anos de 1997 e 1998, quando eu já tinha idade para ir com um amigo sem precisar da minha mãe junto (em 1999 eu fui pouco porque era vestibulando).
Ainda em 1999 as salas foram fechadas, quando foi aberto o primeiro (e único) multiplex da cidade. O Capitólio segue abandonado e o Babilônia virou uma espécie de galeria de pequenas lojas e boxes de camelôs.
Estou fazendo esse rodeio porque foi o que ficou na minha cabeça após assistir a Retratos Fantasmas, documentário de Kleber Mendonça Filho sobre cinemas de rua.
Leia a minha opinião completa sobre o filme no Letterboxd: Retratos Fantasmas
Onde ver: Cinemas
Outros filmes que vi recentemente:
Pequena Mamãe (Amazon Prime Video)
Evangelion 3.0+1.01: A Esperança (Amazon Prime Video)
Catarina, a Menina Chamada Passarinha (Amazon Prime Video)
Um Livro: Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez com tradução de Eric Nepomuceno
Não fazia muito tempo desde o meu primeiro encontro com Macondo, mas quando a oportunidade surgiu decidi que valeria a pena rever os Buendía nesse épico tão latino-americano. Para quem quiser saber o que é Realismo Mágico, basta ler Cem Anos de Solidão, pois a obra máxima de García Márquez reúne tudo que é possível caber neste subgênero típico do nosso continente.
E o Gabo escrevia com tanta habilidade que é impossível não se deixar levar pela longa e emaranhada aventura repleta de José Arcádios e Aurelianos, não se encantar pela inocência de Remédios e pela perenidade de Úrsula, a matriarca. Há um certo desbalanceamento no ritmo, mas que talvez seja proposital. Ainda assim, os personagens da primeira metade são mais bem detalhados que os da reta final.
Mas foi uma releitura muito gostosa e já antecipo que voltarei a me encontrar com essa família centenária.
Leia a minha opinião completa no Goodreads: Cem Anos de Solidão
Uma Série: One Piece - A Série - 1ª Temporada
Eu já escrevi uma edição inteira da newsletter sobre o mangá One Piece, então sou leitor há mais de 20 anos e tenho uma relação afetiva com a obra. Devido a isso, claro, eu tinha expectativas bem baixas pra essa adaptação, afinal é muito difícil transformar uma história tão caricata (no bom sentido) em algo verossímil com atores reais. E assim fui surpreendido com uma adaptação muito divertida!
O quesito mais forte é o elenco, que consegue chegar num ponto muito interessante de semelhança com os personagens originais, mas com uma dose de diferença em aspectos menos relevantes mas que ajudam a deixar mais natural. Além dos cinco personagens principais, uns melhores, outros menos, adorei o Buggy, o Kuro, o Shanx e o Koby.
Não curti todas as decisões que levaram a mudanças, pois apressaram muito as resoluções das tramas. Porém, se esse foi um recurso para chegar logo na parte realmente central do mangá, é aceitável. Ou seja, se a partir de agora alguns momentos forem mais bem trabalhados. É melhor cortar arcos inteiros se estes tiverem pouco impacto do que fazer tudo apressado. Algumas batalhas foram sem graça, resolvidas de forma muito rápida.
Ao mesmo tempo, outras decisões me agradaram, como o espaço dedicado a Garp, Koby e Helmeppo, que acabou servindo para construir melhor o background desse universo, apresentando desde o início o lado da Marinha.
Na média, o resultado foi muito positivo.
Onde ver: Netflix
Um Podcast: Babel
Novamente na linha dos podcasts que eu vou maratonando, recentemente acabei o Babel. O podcast está em hiato, não sei se vai voltar, mas tem um bom estoque de episódios para quem não conhece.
Como o nome sugere, é sobre idiomas. Cada episódio discute um pouco a história daquela língua ou dialeto, traz exemplos da fala, apresenta elementos da linguística em si, e ainda indicações culturais acerca do tema, além de sugerir modos de aprender o idioma. E não pensem que os episódios são sobre inglês, espanhol e português. Há algumas línguas mais faladas, mas boa parte das discussões nos trazem idiomas de minorias, de povos originários ou falados por pequenas comunidades.
O último episódio, sobre o idioma Lakota, dos indígenas norte-americanos, pode ser ouvido aqui ou no seu agregador de podcasts favorito:
https://medium.com/babelpodcast/epis%C3%B3dio-36-lakota-595939851a7a
Uma Newsletter: Austin Kleon
Eu leio menos newsletters em inglês do que gostaria, inclusive aceito recomendações. O Austin Kleon escreveu alguns livros sobre criatividade. Não é tudo que ele faz que eu gosto, tem uma vibe próxima à de O Caminho do Artista, que me afastou quando tentei seguir. Chega perto do limiar que separa esse estilo da autoajuda. Porém, a newsletter gratuita do Austin é rapidinha e interessante. Toda sexta ele lista 10 itens imperdíveis da semana, é basicamente uma curadoria de links, às vezes de músicas, às vezes de matérias, livros, filmes. Gosto principalmente de ser curtinha, balanceia algumas newsletters mais longas que acompanho. Vejam a da última sexta: