Há quase um ano e meio eu escrevi sobre a minha relação com a Chapada dos Veadeiros:
Nesta edição eu mencionei que nunca havia ido a Cavalcante e que a famosa Cachoeira Santa Bárbara estava me esperando. Pois bem, há duas semanas, quando a newsletter anterior foi entregue para vocês, eu estava exatamente lá. Aproveitei um período mais curto de férias e decidi quitar essa dívida.
Cavalcante é na verdade o berço da região. Foi encontrada pelos homens brancos ainda na época dos bandeirantes, que lá fundaram minas de ouro em meados do Século XVIII. Só no início do Século XX foram achadas as jazidas de quartzo onde hoje fica o Parque, perto de São Jorge, então até essa época apenas Cavalcante era povoada.
Cavalcante também abriga a maior parte do Quilombo Kalunga, o maior quilombo do Brasil, ocupado há cerca de 300 anos e regularizado em 1991, e que se subdivide em várias pequenas comunidades, a maior delas a Engenho II.
Por ficar a 90 Km de Alto Paraíso de Goiás, Cavalcante é um pouco menos atraente para o turismo e, assim, menos movimentada que a colega de Chapada. Mas isso vem mudando e novos atrativos vem sendo descobertos e popularizados na região.
Assim, aluguei um carro e segui para a Chapada dos Veadeiros. Parei em Alto Paraíso para almoçar e cheguei à pousada em Cavalcante por volta das 15h de uma segunda-feira. As opções de restaurantes são mais limitadas que em São Jorge ou Alto Paraíso, mas elas existem, então consegui fazer alguns bons jantares na cidade.
Na terça às 8h encontrei com a guia Kalunga que ia me orientar pelo território, pois o Quilombo só autoriza a entrada com um guia credenciado pela própria comunidade. Após cerca de 27 Km de estrada de terra em qualidade razoável chega-se ao Engenho II, um povoado grandinho, com loja e várias opções de almoço feito todo com ingredientes plantados por eles.
Deixei o carro conforme orientado e seguimos o caminho de cerca de 1,5 Km até a Cachoeira Santa Bárbara. O povoado oferece três atrações: a mais famosa é esta, considerada uma das cachoeiras mais bonitas do Brasil graças à cor de sua água; mas também tem a Candaru e a Capivara e normalmente dá tempo de ir à Santa Bárbara e a mais uma, optei pela Capivara.
A Santa Bárbara é realmente um desbunde. E além de belíssima é boa para nadar, tem trechos que dá pra ficar em pé e outros mais fundos pra quem preferir.
Depois voltamos ao carro e seguimos pra outro estacionamento, de onde andamos mais 2 Km pra Capivara, que dei a sorte de pegar praticamente vazia. Também é bonita e muito agradável de tomar banho.
Como eu não sabia das opções de almoço no Quilombo, levei lanches demais e acabei perdendo a oportunidade. Mas este é um lugar que pretendo voltar, para ir na Candaru e aproveitar o almoço.
Já na quarta decidi ir ao Complexo Canjica. Busquei a guia às 8h novamente, desta vez uma guia que não era Kalunga, e seguimos de carro por cansativos 72 Km de terra até o Tocantins, onde fica a entrada do Complexo. A trilha do Canjica é moderada e pode ser difícil em alguns momentos, com cerca de 10 Km, já contando o retorno. É obrigatório o uso de um guia.
É um lugar lindíssimo, com uns sete poços diferentes para banho. Mas é tanta coisa que eu senti que não dá tempo de aproveitar adequadamente. É no máximo meia hora em cada lugar e mal dá tempo de secar para calçar bota e colocar a roupa até a próxima parada. Alguns trechos da trilha são perigosos e precisei da ajuda da guia para não me desequilibrar.
O lugar mais bonito é conhecido como Borda Infinita, é um poço para banho que fica à beira de uma abertura no topo da serra, da qual consegue-se ver todo um vale embaixo. Achei a paisagem surreal, valeu a pena poder presenciar pessoalmente. Nenhuma foto captura a real sensação de estar lá.
Após chegar cansado da trilha e da correria é necessário mais uma vez encarar quase 2h de estrada de terra driblando buracos e desafiando a coluna com as trepidações. Cheguei a Cavalcante exausto e com a certeza de só voltar a este destino caso contrate um transfer, pois a parte da estrada é mais cansativa que a trilha.
Assim, na quinta escolhi um destino bem tranquilo. O Poço Encantado fica perto de Teresina de Goiás, já na estrada entre Cavalcante e Alto Paraíso. São apenas 600 metros de trilha suave e já cheguei a uma praia e uma bela cachoeira. Eu, particularmente, prefiro que haja alguma trilha pra cachoeira ser a recompensa. Mas neste dia foi exatamente o que eu precisava.
Almocei em Alto Paraíso depois da cachoeira e segui para dormir uma noite em São Jorge, noite esta na qual visitei a Pizzaria Lua Nova, um estabelecimento que frequento desde a minha primeira visita, há mais de 15 anos.
Na sexta resolvi não fazer passeio algum, só descansar mais na pousada, visitar as lojinhas em Alto Paraíso e retornar para Brasília após o almoço.
Foi uma viagem recompensadora. Gostei muito da visita ao Quilombo Kalunga, mas achei pouco prático o Complexo Canjica, devido à distância de Cavalcante. É muito longe para chegar e lá dentro muita coisa para ver em pouco tempo, eu gostaria de ter aproveitado melhor em cada lugar. Mas não me arrependo da visita, pois é belíssimo.
Um Filme: O Esquema Fenício
Tem muita gente que enjoou do Wes Anderson, e eu entendo. Os filmes dele são todos meio parecidos, nenhum tem muita coerência e são repletos de nonsense, além da estética com enquadramento e cores muito características. Mas eu sigo gostando. A cada dois anos vai bem passar pela experiência. Apesar disso, O Esquema Fenício é um dos filmes dele que menos gostei na última década.
Leia a minha opinião completa no Letterboxd: O Esquema Fenício
Onde ver: Cinemas
Outros filmes que vi nesta quinzena:
Um Lugar Silencioso: Dia Um (Netflix)
O Fugitivo (Max)
Mickey 17 (Max)
Aqui (Amazon Prime Video)
Um Livro: The Galaxy and the Ground Within, de Becky Chambers
Luto define. Luto por ter chegado ao fim da tetralogia Wayfarers. São quatro volumes praticamente independentes, com pequenos detalhes ligando um ao outro. Ajuda ler na ordem só para já ir avançando no conhecimento do worldbuilding, das raças alienígenas, etc. Mas as histórias em si são isoladas. Este quarto e último volume foi um dos meus favoritos, com personagens muito carismáticos, todos com background rico e bem trabalhado, reunidos através do acaso, mas com tramas servindo de discussão sobre etnias, preconceito e guerra. Chambers é muito habilidosa com as palavras e estou decidido a ler tudo que ela tiver escrito.
Leia a minha opinião completa no Goodreads: The Galaxy and the Ground Within
Um Jogo de Tabuleiro: Copenhagen
Às vezes algum jogo de tabuleiro me surpreende com uma mecânica muito diferente. Copenhagen traz tabuleiros individuais que formam um edifício e cada jogador tem que comprar peças no estilo de Tetris com a ajuda de cartas da cor respectiva e ir construindo os andares. Completar uma linha dá um ponto, uma coluna dois. Ambas as pontuações são dobradas se consistir apenas de janelas. É uma mecânica relativamente simples, mas com muitas possibilidades e boa rejogabilidade.
Um Podcast: Debate de Bolso 1 - Por que deveríamos ouvir os generalistas?
Os dois hosts do Pouco Pixel resolveram separar esta seção do podcast em um semanal de cerca de 30 minutos. Nem sempre eu concordo com os pontos de vista deles, mas acho que a discussão costuma ser produtiva. Só ouvi o episódio inaugural, mas já tem feed próprio. A cada episódio um dos dois traz um tema e eles debatem.
Ouçam no seu agregador favorito ou no link abaixo:
Uma Newsletter: Luas e Marés - As Cachalotes Conversam em Código Morse, por Lis Vilas Boas
A Lis é escritora de noite (o livro Garras está à venda pela editora Rocco), mas de dia é oceanógrafa e eu adoro quando ela escreve sobre os mistérios do Oceano na newsletter Luas e Marés. Nesta edição o assunto principal é a forma das baleias cachalote se comunicarem e a busca da Humanidade por mecanismos de entrar nessa conversa, algo que talvez nunca seja possível.
Leiam:
https://lis-vilas-boas.beehiiv.com/p/as-cachalotes-conversam-em-codigo-morse
Mentalmente estou na Borda Infinita. Obrigada por me levar até lá, Elvis!
Adorei rever estes lugares pelo seu olhar. O kalunga ficou pra outra viagem, exatamente pela distância... É tudo tão lindo né? ♥️